segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Eu Achei Que Dava: A História de Um Peido Molhado

Sugestão de título - Omar Lorenzini Jr
Autoria do texto - Marilia Bavaresco


Naquele dia abafado acordei atrasado e não deu tempo de tomar meu café ritualisticamente como sempre faço.
Passei uma água na cara, peguei uma maçã, desci para a garagem, entrei no carro e fui manobrando. Tudo certo... ia dar tempo de eu chegar no serviço antes que o chefe chegasse. Fazia tempo que estava um clima estranho entre nós dois. Melhor não dar chance ao azar.
Ao virar na esquina para entrar na avenida perimetral, emboquei no maior congestionamento que podia haver na cidade inteira. Neste horário eu já estaria no escritório nos dias sem atraso. Amaldiçoei o despertador e mentalmente já previa as indiretas dos colegas e do chefe boçal. Liguei o ar, fechei os vidros e coloquei um som. O carro tinha sido higienizado e estava um brinco!
Mal relaxei, senti uma dor de barriga que parecia um golpe de karatê na boca do estômago. Era só o que me faltava mesmo... atrasado, num engarrafamento e com dor de barriga. Comecei a suar frio, e, apesar do ar, minha camisa estava lavada, as palmas das minhas mãos também. Eu agarrava o volante como se fosse arrancá-lo.
Mil ideias começaram a pipocar na minha cabeça nesse momento de desespero... se eu largasse o carro ali e fosse correndo no posto de gasolina mais próximo? Daria tempo? Os carros não estão andando mesmo... Pensamentos malucos que na hora do perigo tentam nos tirar das enrascadas, apontar saídas.
Infelizmente o organismo foi mais forte do que a razão e quando eu achei que dava para soltar um pouco do gás que me dilacerava as entranhas, senti escorrer alguma coisa... e assim como começou, não consegui estancar. Pronto! Estava todo sujo, banco recém lavado imundo, parado num congestionamento enorme, atrasado para o serviço, não faltava mais nada. Ou será que faltava?
Imediatamente após me questionar, senti uma trombada e minha cabeça quase bateu no vidro dianteiro, não fosse o cinto bem afivelado.
Demorei a atinar o que tinha acontecido. Quando percebi tinha gente ao redor do meu carro, fazendo sinal para eu abrir o vidro. Fingi que não conseguia.
Tinha sido um engavetamento e o meu carro ficou prensado entre outros dois. Eu disse que estava tudo ok, fazendo sinal positivo mas morrendo de vergonha do que tinha me acontecido e do odor exalado, que certamente as pessoas iriam sentir se eu abrisse a janela. De qualquer forma as portas estavam travadas e ninguém conseguiria abri-las.
Demorou cerca de uma hora, tudo parado, um cheiro aterrador, eu já tinha
ligado pro serviço avisando do acidente - o que aliviou um pouco minha situação no escritório -, até que uma equipe dos bombeiros apareceu ao redor do meu veículo. Estava ferrado! Eles iam abrir à força a porta... e eu não tinha como escapar daquele vexame.
A porta foi aberta com pé de cabra e, gentilmente, os bombeiros me encaminharam para a ambulância para exames preliminares.
Depois de todos os trâmites, me liberaram e gentilmente uma enfermeira que parecia um anjo caído na terra de tão linda me alcançou uma toalha. Devagarinho se aproximou e disse:
- Não precisa ficar chateado. Isso - apontando com a cabeça para minhas partes baixas - acontece em situações de trauma. 
Deu uma piscadinha e eu fiquei ali, sem saber se ria ou chorava. 
Que merda de dia. Literalmente!

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