quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Minha Vó Estava em Casa

Sugestão de título - Omar Lorenzini Jr
Autoria do texto - Marilia Bavaresco

Passava das oito da noite e nada da D. Ermínia atender o telefone. Fazia horas que Felipe tentava falar com a mãe e já estava preocupado. Ela não estava atendendo o telefone o dia todo.

D. Ermínia tinha cinco filhos. Como Felipe era o mais novo, foi o último a sair de casa e o mais apegado à ela. Ele morava na capital e a mãe no interior, mas todos os dias se falavam pelo menos uma vez ao telefone.
Os outros filhos e netos de D. Ermínia moravam na mesma cidade que ela. 
Felipe estava angustiado e pensava que algo grave tivesse acontecido com a mãe. Se fosse mais perto ele iria para lá pessoalmente averiguar, mas era inviável.
Ligou para o irmão Francisco. O sobrinho de oito anos atendeu o telefone.
- Alô. 
- Oi Douglas, aqui é o tio Felipe. O teu pai está por aí?
- Não. Foi na vó. Só estou eu e a mãe.
- Faz tempo que ele foi?
- Faz.
O coração de Felipe acelerou.
- Obrigada querido. Tchau.
Tentou mais uma vez ligar para a mãe e caiu na caixa postal. Estava tentando controlar o seu temor de que algo ruim pudesse estar acontecendo com ela.
Discou para o outro irmão, Marcelo, que não tinha celular, só fixo.
- Alô?
- Alô, quem fala?
- A Judite, empregada.
- Oi Judite, eu sou o Felipe, irmão do Marcelo. Posso falar com ele?
- Ele saiu. 
- Sabes para onde ele foi?
- Ele ia na casa da mãe dele.
- Faz tempo?
- Uns vinte minutos.
- Obrigada.
Dessa vez o frio da barriga foi maior, a palpitação mais acelerada. Sentou-se. estava começando a ficar apavorado.
Tentou a irmã Clara. Ninguém atendeu e o celular caiu na caixa postal. 
Discou para a última alternativa, a irmã Dora.
- Alô!
- Oi Dora. É você?
- Sim Felipe. Que que houve?
- Sabes da mãe? Tentei falar com todo mundo e ninguém atende. A mãe não me ligou o dia todo e o telefone só dá caixa postal.
- Calma Felipe, respira fundo. Não sei de nada. Estou fora do país, de férias, esqueceu? Sossega. Notícia ruim é sempre a primeira que chega.
- Ok, Dora, desculpe. Qualquer coisa te aviso.
Desligou o telefone e ficou sentado no sofá olhando pro nada.
Lembrou que dera para a sobrinha mais velha de 12 anos, sua afilhada, um celular novo no final do ano. Procurou o número dela na agenda enquanto suava frio... depois de um tempo encontrou nos seus contatos que pareciam mais bagunçados que o habitual.
Discou nervosamente e sentiu um alívio quando alguém do outro lado atendeu.
- Alô?
- Alô, quem fala?
- Felipe.
- Oi filhooooooo!!!!! Peraí que eu vou passar pra Nathália...
- Não mãe... mãe!!!!!
- Oi tio! Tudo bem?
- Nathália, o que está acontecendo? Passei o dia todo tentando ligar prá vó Ermínia e nada. E agora ela atende o teu telefone?
- Nada tio, a minha vó estava em casa. Normal! Estamos aqui jantando com ela. Eu estava ensinando ela usar o snapchat. Pra que número o senhor ligou?
Um frio passou na barriga de Felipe.
- Esquece Nathália... acho que fiz uma pequena confusão... manda um beijo pra vó. Amo vocês.
Felipe se deu conta que havia pego por engano o telefone de sua noiva Júlia que era igualzinho ao dele. Ao tentar ligar para a mãe, procurava sempre o número identificado por contato Mãe, o mesmo usado por ela. Sua sogra não sabia usar celular, constantemente ouvindo as queixas da Júlia. Portanto ao tentar ligar para o suposto número de sua mãe e a ligação caindo sempre na caixa postal, imaginou o pior. Os irmãos e sobrinhos estavam identificados pelos seus primeiros nomes e, casualidade ou não, Júlia também os havia cadastrado assim.
Ligou para o seu próprio número e sua noiva atendeu.
- Oi Felipe, estamos de telefones trocados...
- Pois é amor... acabei ligando do teu para minha mãe, discando o número da tua mãe. Mas agora está tudo resolvido... estou aliviado.
- Então... depois do que encontrei aqui no teu Whatsapp acho melhor ir encontrando explicações porque quando eu chegar aí nós vamos conversar muito sério.
Ouviu o telefone desligando. 
Ele começou a rir de desespero. Agora sim o coração parecia que ia saltar pela boca.



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