sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O Desgaste da Tramela

Sugestão de título - Verônica Kappel
Autoria do texto - Marilia Bavaresco

Dogo era um rotweiller. Como todos os cães do mundo que tinham um dono, ele vivia com uma família humana, comia boa ração, fazia suas necessidades no pátio e dormia numa casinha na frente da casa. 
A família, assim como todos os humanos, nem imaginava que o cão, assim como todos os outros cães era capaz de se comunicar, de pensar e agir e só não dominava o mundo por não ter dedos opositores (igualzinho aos felinos).
Dogo estava apaixonado pela poodle gigante Miranda que morava com sua família humana na casa da frente. Parecia que ela também estava interessada então o chiuaua Pingo da casa do lado resolveu marcar um encontro entre os dois.
E seria naquela noite, assim que os humanos fossem dormir.
Miranda tinha seus métodos para escapulir de casa, mas Dogo era um cão de guarda. Estava num dilema existencial muito grande porque tinha que zelar pelos seus humanos. Se ele saísse da casa pode ser que algum malfeitor se aproveitasse. Dogo não era mau, mas metia medo pelo tamanho e compleição física.
Pingo se comprometeu em ficar de guarda enquanto eles estivessem no encontro então Dogo relaxou. 
Chegada a hora do encontro, depois da meia-noite, Dogo abriu o portão com o focinho, mas devido ao desgaste da tramela, assim que saiu, a portinhola ficou entreaberta e não trancou. 
Um bandido que estava de tocaia nas redondezas esperando para por em prática suas maldades, viu que o cão grandalhão aparentemente fugira de casa e o portão estava aberto. Era a chance de depenar mais humanos descuidados.
Ele foi se aproximando do pátio, passou pelo portão, que também não fechou. Quando ele se preparava para subir pela grade que ia para o segundo andar, o pequeno chiuaua começou a latir esganiçadamente como todo o chiuaua faz. Uma luz acendeu. Mais outra luz. O ladrão pulou no chão e quebrou o pé. Pingo latia enquanto os humanos chamavam a polícia. O pequeno chiuaua correu para sua casa.
Tudo quase voltou ao normal. Porém, Dogo não estava em casa. A família estranhou, procurou na redondeza e nada do grandão aparecer. Achavam que alguém pudesse ter aberto o portão e deixado ele fugir de propósito. Não voltaram a dormir naquela noite... pelo menos até a hora que Dogo apareceu parecendo sorridente, e deitou na soleira da porta da frente.
No dia seguinte Pingo contou o que tinha acontecido e o grande cão se sentiu humilhado e triste. Justo quando a família precisou, ele não estava ali. 
Nesta mesma noite outro bandido que chegou na vizinhança, desconhecendo Dogo, viu que tramela do portão não fechava. Resolveu entrar. Quando tentava subir a mesma grade que outro malfeitor tentou subir, foi abocanhado pelo bocão de Dogo que só soltou o bandido com a chegada da polícia.
Dogo se sentia satisfeito. Cumprira seu papel!
A partir dali, todas as noites Miranda vinha para o pátio dele, pela facilidade de entrar pelo portão. Santa tramela!!! 
E os dias passavam felizes.
Mas a alegria deu lugar à preocupação quando uns dois meses depois Miranda não apareceu e o vizinho, dono da poodle entrou na casa com cara de poucos amigos para conversar com o humano do grande cão.
Quando ele foi embora, seu dono correu para ele e Dogo pensou que ia ser castigado. Ao invés disso ganhou um osso gigante e muito carinho. 
Ele não entendia direito o que humanos falavam mas pareciam felizes e diziam algo assim:
- Parabéns Dogo, você é papai de dois meninos e duas meninas!!!!!!

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