segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O Porongo

Sugestão de título - Fernanda Bettin
Autoria do texto - Marilia Bavaresco

Numa tarde ensolarada, brincavam na piscina do sítio diversas crianças e adolescentes da mesma família. 
Os pais que eram irmãos e cunhados resolveram confraternizar naquele dia de domingo porque uma das irmãs que não morava na cidade estava de visita com a família.
Todos lá, num dia lindo, num lugar verde e bonito no calor do final da primavera.
Os primos corriam, pulavam na água e brincavam. 
Uma das meninas pegou um porongo (aquele que se faz cuia de chimarrão) e jogou em direção da piscina. Só que ao invés de cair na água como era sua pretensão, o porongo quicou no ombro de uma das primas.
As duas se olharam. Quem atirou ficou paralisada. A que recebeu a porongada num primeiro instante não percebeu, mas um nervo em cima do ombro onde foi atingida, cresceu preto e alto. As duas ficaram apavoradas. 
A mais velha que atirou o porongo tremia de medo do que a família faria.
A mais nova, machucada e com dor, chorava e tentava subir o morrinho em direção à casa.
Os demais primos prevendo o fim da tarde de piscina, resolveram intermediar.
Foi montado uma espécie de juri. Defesa e acusação.
Primeiro a atiradora de porongos. Na cabeça dela poderia evitar a tragédia chantageando a menor. 
- Se tu for lá e contar para a tua mãe, a nossa família vai acabar. Tu vai terminar com tudo. Nossa família nunca mais vai se reunir... vai lá e conta pra ti ver.
Os primos imploravam que a pequena não fosse. Mas não pela família. O banho de piscina e a diversão é que iam acabar já que os pais da machucada eram os donos do sítio e provavelmente teriam que levá-la ao pronto socorro.
A menor, apavorada, não sabia se ia ou não. Não queria acabar com a alegria dos primos mas a dor era mais forte e o nervo não parava de inchar. Chorando ela decidiu ir, e os primos sentaram e esperaram. Menos a prima que atirou o porongo.
Ela se escondeu dentro do carro da família, chorando, só esperando a hecatombe que viria... mas o tempo passou, nada aconteceu e ela adormeceu.
No final da tarde, vendo que tudo estava calmo, os primos continuavam na piscina, - menos a prima da porongada - ela saiu e foi se aproximando da casa devagarinho.
Os adultos estavam organizando as coisas para irem embora. A tia, dona do sítio a viu, chamou-a e explicou que a prima estava assustada, mas ia ficar bem. Que tinham que tomar cuidado com esse tipo de brincadeira. 
A sua mãe mais rígida disse que ela merecia uns puxões de orelha, mas acabou nem fazendo isso, porque ela já se debulhava em lágrimas de sentimento.
A prima estava bem, com o seu machucado, mas nada muito grave.
Essa é uma história verídica, com alguns fatos inventados porque eu não lembro muito bem o que aconteceu depois da porongada que dei na minha prima Fernanda, mas com certeza levei uns safanões e não foi tudo tão "de boas" como na história acima.
Bons tempos e saudades até dessas passagens mais doloridas, literalmente.

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