quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Vai, que é tua!

Título sugerido por Thannia Thaddeu. 
Texto redigido por Marilia Bavaresco.

Maurinho era um cara chato daqueles chatos que todo mundo conhece numa pequena cidade. Mas eram tantas chatices reunidas numa pessoa só que esgotava quem estivesse com ele. Mais ou menos como aqueles bichinhos que tiram energia da gente nos jogos eletrônicos.
Ele era o cara que fazia piada com o pavê, que rimava tudo que falava, que colocava as mãos nas pessoas para conversar, que dizia em toda refeição "quem senta na ponta...", que emendava assuntos e não deixava seu interlocutor ir embora e assim por diante. Mas a pior de todas as suas manias era o bordão que ele usava em qualquer situação: "- Vai que é tua Fulano!!!!!!!". E isso vinha desde a copa de 1994, com a narração dos jogos pelo pai dos chatos, Galvão Bueno. 
Nas situações mais inesperadas onde estava o povo reunido, logo se escutava a frase insuportável: "- Vai que é tua ...!". Todos que conheciam o Maurinho sabiam que ele estava presente no local. Era um tal de revirar os olhos e suspirares que o chato chegava a pensar que estava agradando.
Certa feita uma prima dele ia se formar e todos previam que ele gritaria a frase quando ela recebesse o canudo. Não tinham como não convida-lo pois parente a gente não escolhe... Combinaram então que assim que o Maurinho fizesse menção de gritar, todos bateriam muitas palmas e assoviariam para tentar abafar o gerador de micos ambulante. Chegado o dia, a prima estava recebendo o canudo e nada do Maurinho gritar. Alívio geral!! Hora do discurso do paraninfo e quando ele acabou, do nada o chato berra: "Vai que é tua professor!". Nem preciso dizer que ficaram todos lívidos, enquanto o resto da plateia se remexia, alguns riam e outros cochichavam.
No casamento de outro parente, na hora do sim do noivo: - Vai que é tua Sicrano!. Constrangedor.
No baile de 15 anos da sobrinha, quando ela deu a volta no salão: - Vai que é tua Fulana!. A adolescente ficou vermelha de raiva.
No batismo de um sobrinho, assim que o padre ungiu a testa do pequeno, rebombou na igreja um "vai que é tua pequenino!". 
Até no funeral da mãe, quando o caixão estava sendo colocado no túmulo, ele gritou "Vai com Deus que é tua mãezinha!" e caiu no choro...
Por essas e tantas outras ele se tornou uma figura icônica na cidade. Tanto encheu o saco, tanto azucrinou os familiares, amigos e conhecidos que um partido resolveu coloca-lo como candidato nas eleições para vereador. 
O slogan escolhido não podia ser outro: "Vai, que é tua eleitor!". 
Ganhou com a imensa maioria dos votos e, na carona da sua eleição, vários outros candidatos de má índole passaram a legislar na casa do povo da pequena cidade.
Maurinho se deu conta dos vigaristas que dividiam com ele a legislatura e passou a se esconder de todo mundo, envergonhado. Ninguém mais via o inconveniente edil circulando pela rua. 
Cada vez que ele aparecia em algum lugar, fazia tudo o que tinha para fazer rapidinho, mas nunca escapava e continua não escapando dos gritos de quem o elegeu: "Vai que é tua, falcatrua!".


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